23.10.05

Fenomenologia


“... não possuímos agora nenhuma ciência válida nem um mundo existente... isso, também, se relaciona à existência dos outros Egos... desaparecem naturalmente todas as estruturas sociais e culturais... a partir de agora... resta apenas o fenômeno da existência.” E. Husserl (epoché transcendental / Meditações Cartesianas)
A fenomenologia desponta como um dos movimentos filosóficos mais importantes do século vinte. Proposta por Edmund Husserl como reação ao psicologismo e ao positivismo e mantendo muitos pontos de aproximação com o existencialismo influenciou filósofos, cientistas sociais e educadores. (Sartre, Heidegger, Merleau-Ponty, Scheler, Jaspers, Adorno, Paulo Freire, etc.).

“Husserl entendia a fenomenologia como estudo da experiência e da consciência. O sujeito e o objeto dos problemas filosóficos tradicionais são colocados entre parênteses (epoché). Para Husserl a consciência é intencional no sentido de que é inerentemente direcionada para um mundo intencionalmente constituído e ela surge somente quando age com intencionalidade, tanto o conhecedor quanto a coisa conhecida são componentes da experiência. Rejeita o tradicional dualismo mente-corpo ou relatos da realidade última. Entidades metafísicas como o Eu, objetos autonomamente reais são postos de lado (epoché) em favor da análise da consciência. Não existe um Eu antecedente que age, por exemplo, como o personagem de uma peça. O ‘pensador’ e o seu ‘mundo’ surgem e permanecem na experiência. Não existe o problema de conhecer coisas reais que estão ‘fora’ das mentes, visto que os conhecedores já são parte dos seus ‘mundos’ e são inseparáveis deles – o Dasein, como Heidegger o denomina.” Milton Hunnex.
Como fundamento do método fenomenológico, Husserl introduziu a redução fenomenológica - epoché. A redução fenomenológica é uma operação intelectual necessária para se chegar à essência do objeto. É uma reflexão interna (intuitiva) sobre o objeto, que tenta fixar o objeto em sua intencionalidade. A epoché (por entre parênteses) era adotada pelos filósofos cépticos gregos como suspensão do julgamento quando se deparavam com situações problemáticas insolúveis.

"...A redução eidética acrescenta Husserl, em suas obras posteriores, o que ele chama a redução transcendental. Esta consiste em por entre parêntesis não só a existência, senão tudo o que não é correlato da consciência pura. Como resultado desta última redução, nada mais resta do objeto além do que é dado ao sujeito. Para bem compreender a teoria da redução transcendental, é necessário que examinemos agora a doutrina da intencionalidade, que lhe serve de base..." J. M. Bochenski:
Fenomenologia de E. Hussel
"O homem é, não apenas como ele se concebe, mas como ele quer que seja. Como ele se concebe depois da existência, como ele se deseja após este impulso para a existência; o homem não é mais do que ele faz." Jean-Paul Sartre. Cristina Pereira: Da Fenomenologia ao Existencialismo
EXEMPLOS/ APLICAÇÕES
"O presente artigo se propõe a discutir as contribuições da fenomenologia de Alfred Schutz para o campo das pesquisas sobre comportamento sexual e vulnerabilidade para HIV/AIDS. Primeiro foi realizado um levantamento sobre as principais pesquisas sobre vulnerabilidade de HIV/AIDS no Brasil, além de uma apresentação sobre as principais tendências da epidemia. Depois é discutida a teoria fenomenológica no campo das ciências sociais a partir das contribuições de Alfred Schutz. Por fim, apresentamos uma discussão sobre a aplicação epistemológica e metodológica da fenomenologia nas pesquisas sobre comportamento sexual e risco de infecção pelo HIV/Aids, utilizando categorias como epoché e inter-subjetividade". Leandro Castro Oltramari: Pesquisas sobre AIDS
“Como passar de um método filosófico para um método empírico? O método fenomenológico da filosofia é voltado ao fenômeno: em qualquer sentido em que se pense a Fenomenologia, ela se propõe a ser um estudo direto dos fenômenos... o dado é apreendido direta e unicamente pelo fenomenólogo, que deve então se libertar de teorias, pressuposições ou hipóteses explicativas...” Daniel A. Moreira: O Método Fenomenológico na Pesquisa.

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